No ano em que o grupo Antas BTT celebra 10 anos de
actividade, nada melhor para os fundadores deste grupo, Carlos Guiomar e
António Freitas que celebrar esta data com uma Peregrinação a Santiago de
Compostela
São vários os Caminhos que nos
levam a Santiago, nós escolhemos percorrê-lo com bicicleta de BTT e em
autonomia o Caminho Português Interior de Santiago, com partida de Antas.
O Caminho Português Interior de Santiago estende-se por 205 Km, em
território português, atravessando os municípios de Viseu, Castro Daire,
Lamego, Peso da Régua, Santa Marta de Penaguião, Vila Real, Vila Pouca de
Aguiar e Chaves. Atravessa a fronteira em Vilarelho da Raia percorrendo,
seguidamente cerca de 180 Km da Via da Prata, em território espanhol, até
alcançar Santiago de Compostela.
O Caminho de Santiago foi o
primeiro Itinerário Cultural Europeu e Património da Humanidade. É umas
principais rotas de peregrinação Cristã e também uma das mais antigas. Desde a
descoberta do sepulcro do Apostolo S. Tiago, inúmeros peregrinos foram a
caminho de Compostela para venerar as suas relíquias, formando assim uma
cultura jacobea em toda a Europa. Tiago
filho do pescador Zebedeu e de Salomé foi um dos doze que fez parte do íntimo
círculo de Jesus, e foi o responsável pela evangelização da antiga Hispânia,
transmitindo a Fé original recebida de Jesus.
A peregrinação é um ritual comum
à grande maioria das religiões. Santiago de Compostela é considerada uma das
três principais cidades de peregrinação do Cristianismo, juntando-se a
Jerusalém e Roma. Foi a partir do século IX, quando os cristãos europeus viram
a sua fé ameaçada pelo avanço do Islão que afirmaram a sua peregrinação ao sepulcro
do Apostolo S. Tiago. Foram então criadas diferentes rotas que levaram os
cristãos a Santiago de Compostela, resultando assim numa forma de unidade entre
os diferentes países e regiões europeias. O século XII e XIII foi a idade de ouro
da peregrinação a Santiago. No entanto, este fenómeno da Peregrinação a
Santiago de Compostela mantém-se até aos dias de hoje, tendo sido reforçado nos
últimos anos, embora agora nem todos o façam por motivos religiosos.
Peregrinar é um ato de Fé, que
aliado ao nosso gosto pelas viagens de bicicleta se traduz num enriquecimento
espiritual e cultural, um desafio aos limites do corpo e uma grande aventura
cheia de muitas descobertas.
Diário da Viagem
Etapa 0, Antas – Viseu.
A saída para a nossa peregrinação
iniciou-se no domingo, dia 22 de maio, junto à Igreja de Antas, local marcante
da nossa aldeia. Seguimos por Mareco junto ao Caminho dos Galegos em direcção a
Penalva do Castelo. Depois seguimos junto à margem do Rio Dão até Fagilde,
antes de iniciarmos a subida até à Cidade de Viseu. Ponto de paragem desta etapa
junto à Sé de Viseu. Nesta etapa percorremos 40 Km e utilizamos bicicletas de
estrada.
Etapa 1, Viseu – Moura Morta
Na segunda-feira, e já com as
bicicletas de BTT e de mochilas às costas, iniciamos o Caminho Português
Interior de Santiago junto à Sé de Viseu; passamos junto à Cava de Viriato e
seguimos as setas amarelas indicadoras do caminho em direcção a Almargem.
Depois percorremos alguns caminhos rurais até encontrarmos Cabrum, aldeia que
tinha ficado sem habitantes e há 5 anos foi repovoada. A partir da Ribeira de
Cabrum fizemos uma longa subida até à aldeia de Mões, local para o nosso
almoço. Da parte de tarde o percurso foi um constante sobe e desce, muitas
vezes em caminhos pedregosos dificultando a nossa progressão. Com 58 Km e 2000
m de acumulado de subida o ponto de paragem neste dia foi em Moura Morta, aldeia
do concelho de Castro Daire, onde encontrámos diversas manadas de vacas;
caricato o lugar onde proliferavam visivelmente mais vacas do que habitantes.
Etapa 2, Moura Morta – Vila Real
Foi com ameaça de chuva que esta
etapa se iniciou em Moura Morta. Passados alguns Km já na aldeia de Mézio sob
chuva intensa que nos levou a parar um pouco e a abrigar na Capela de N. Sª das
Antas. Com a diminuição da chuva fomos pedalando em direcção a Lamego, com uma pequena
paragem em Bigorne para um café para depois iniciarmos a descida até à N. Sª
dos Remédios. A partir de Lamego entrámos no denominado Alto Douro Vinhateiro e
começamos a subir e descer os socalcos do Douro por entre muitas vinhas e alguns
olivais. O almoço foi na Régua bem junto ao Rio Douro. Esta etapa foi
claramente a de maior beleza, pelas suas paisagens montanhosas, as vinhas a
perder de vista nas encostas íngremes e escarpadas junto ao Rio Douro. Após a
passagem por Santa Marta de Penaguião percorremos um fantástico singletrack.
Continuamos a pedalar vários Km nas vinhas do Douro até chegarmos a Vila Real
com 60 Km feitos neste dia. Ficámos instalados no Seminário local que serve de Albergue
aos peregrinos. Depois do jantar aproveitámos para visitar a cidade de Vila
Real.
Etapa 3, Vila Real – Chaves
A saída de Vila Real foi feita em
subida até entrarmos em caminhos com muita vegetação e a precisar de limpeza.
Chegados a Vilarinho de Samardã encontrámos um singletrack sinuoso e muito
perigoso devido às pedras molhadas e acentuada inclinação que nos levou até ao
Rio Corgo, para depois fazermos uma subida até à antiga estação de Semardã onde
seguimos pela ciclovia do Corgo. Esta ciclovia foi criada aproveitando a antiga
linha ferroviária que ligava as cidades de Vila Real e Chaves. Quando saímos da
ciclovia em Vila Pouca de Aguiar encontrámos umas das maiores dificuldades de
todo o percurso, vários Km com muita água e lama nos caminhos até Pedras
Salgadas e Vidago. A partir daqui faltavam 20 Km até Chaves, onde chegamos por
volta 17 horas. Ficamos alojados na acolhedora Hospedaria Novosol. Em Chaves
tivemos o melhor e mais animado jantar de toda a semana, na Pensão Flávia,
local que também serve de Albergue e em que o proprietário é um habitual
peregrino de Santiago.
Esta etapa de 106 Km marcou a
entrada em território espanhol através de uma ciclovia que liga Chaves a Verín
- a Ecovía del Támega. Foram cerca de 30 km sempre a rolar. De seguida,
percorremos alguns Km por estrada até iniciarmos a famosa subida que liga Laza
a Alberguería, cerca de 6 km com razoável inclinação onde encontrámos um grupo
de 11 “bicigrinos” portugueses que também estavam a percorrer o Caminho de
Santiago desde Chaves. Chegados a Alberguería seguiram-se vários Km de puro BTT
até chegarmos a Vilar de Barrio. Paramos no Albergue de Xunqueira de Ambía para
carimbar a nossa Credencial e seguimos até à cidade de Ourense. Depois da
chegada ao Albergue situado no Convento de San Francisco fomos conhecer a
cidade de Ourense que tem uma bonita zona história com muitas esplanadas frequentadas,
neste final de tarde, por muitos espanhóis e turistas que desfrutam de
tradicionais tapas e canãs.
Etapa 5, Ourense – Santiago de Compostela
Sexta-feira, acordámos às 6h30 da
manhã para preparar a última etapa; depois de um delicioso pequeno-almoço, o início
da etapa foi uma longa e inclinada subida até Tamallancos. Aqui encontrámos 2
“bicigrimos” visienses que também estavam a percorrer o caminho desde Viseu e
que nos acompanharam até Santiago. Seguimos por Cea, o que nos permitiu passar
junto do imponente Mosteiro de Oseira, local muito agradável, com um 1 Km de
caminho romano, infelizmente, em muito mau estado o que nos obrigou a levar as
bicicletas à mão. A partir de Oseira fizemos uma grande subida de 15 km até Dozón
local do nosso almoço: bocadillo de jamon
serrano e queijo acompanhado de Coca-Cola e donuts para a sobremesa. Energias
repostas faltavam cerca de 70 Km para chegarmos a Santiago de Compostela. As
maiores dificuldades estavam ultrapassadas, e a partir daqui o caminho foi
feito quase sempre em descida até Ponte Pulla, com passagem por Laxe e Silleda.
Os últimos 20 Km foram feitos debaixo de chuva num constante sobe e desce até
chegarmos à Catedral de Santiago de Compostela. Depois da foto da praxe para
assinalar a chegada fomos procurar o Albergue Final del Camino, onde ficamos
instalados. Esta foi a maior etapa pois percorremos 114 Km. No total de todas
as etapas percorremos 445 Km em 31,5 horas e 9250 m de acumulado de subida.
No sábado fomos à Oficina de
Acogida al Peregrino carimbar a nossa Credencial do Peregrino, documento que
identifica o peregrino e serviu para ter acesso aos Albergues ao longo de todo
o caminho. Visitamos o interior da Catedral de Santiago que é a obra mais
importante do românico em Espanha, e onde está o túmulo do Apostolo S. Tiago.
No exterior conhecemos as quatro praças que rodeiam a Catedral - Obradoiro, Quintana,
Imaculada, Pratarias e as principais ruas históricas.
A viagem de regresso foi feita de
comboio, de Santiago de Compostela até ao Porto, com paragem em Vigo.
O balanço desta 1ª
peregrinação/viagem foi extremamente positivo, o que nos faz pensar na
realização da próxima aventura até Santigo de Compostela, com partida desde a
cidade o Porto percorrendo assim o Caminho Português.
As fotos:
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